sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

No dia seguinte acordamos cedo e pegamos a estrada desde Jaipur até Agra no estado de Uttar Pradesh. O cartão postal da Índia e um dos lugares mais esperados da viagem fica lá: o Taj Mahal.

Chegamos em Agra depois do almoço após mais uma viagem emocionante cheia de ultrapassagens incríveis e um barulho constante de buzinas. Durante essa viagem eu entendi o papel das buzinas na Índia. No Brasil, e em grande parte do mundo, o significado da buzina é que você cometeu uma falha no trânsito: virou sem dar seta, fechou alguém ou algo do tipo. Na Índia não! O papel da buzina é avisar que você está próximo do outro carro. Ninguém se ofende com a buzina. E outro fato engraçado era ver as frases de caminhão da Índia: a maioria pedia que as pessoas buzinem se estão próximas. E outra bastante comum pedia para que os motoristas tenham os faróis ligados todo o tempo. Mas por um erro de grafia alguns escreviam "diper" ao invés de "dipper". Pra quem não entendeu "diper" quer dizer fralda! Demorei bastante tempo pra entender porque muitos caminhoneiros pediam para que as pessoas usem fraldas...


Antes de seguir falando à respeito dos pontos turísticos quero abrir um parênteses para dois pontos importantes. O primeiro é a poluição e a sujeira em geral. As ruas são absurdamente sujas. Delhi não está tão mal, mas Jaipur e Agra eram incrivelmente sujas. Em Agra haviam pilhas de mais de um metro de lixo nas calçadas. E aí as crianças se divertiam brincando no lixo junto com as vacas no meio da cidade. A poluição do ar também era incrível. O outro ponto é a diferença de classes e castas. Os hindus acreditam que você nasce em uma determinada casta e deveria ser boa pessoa para reencarnar em uma classe melhor. Se você não foi boa pessoa reencarnará como um dalit ou intocável. Essas é a classe responsável por limpar os esgotos e cuidar do lixo. Isso já não é mais respaldado pela legislação local porém ainda visível em todas as cidades que estive com exceção de Delhi.


Antes de visitar o Taj decidimos ir ao outro cartão postal de Agra, Agra Fort. A idéia era conhecê-lo primeiro e depois visitar um dos pontos mais interessantes da viagem durante duas horas que culminariam com o pôr do sol - o Taj Mahal. A idéia foi boa e Agra Fort era bem interessante: um forte gigantesco construído no século XIV, ápice do império mongol. Saímos de lá, fizemos o check in no hotel, comemos qualquer coisa e seguimos ao Taj Mahal. No Taj, assim como em todos os monumentos da Índia, haviam preços diferentes para estrangeiros e locais. Mas lá os locais pagam 20 rupias (U$0,30) enquanto estrangeiros pagam 750 rupias (U$12)!! Concordo que U$12 é mais barato do que se paga pra visitar o Cristo Redentor ou as Cataratas mas a diferença entre estrangeiros e locais era incrível. De qualquer maneira entramos ao Taj e a vista era simplesmente inesquecível. Creio que a única vez que tive uma sensação assim foi ao subir Machu Pichu e olhar de frente aquilo que já havia visto tantas e tantas vezes em revistas e internet.


Estivemos no Taj por quase duas horas e tiramos muitas fotos. Pra quem não sabe o Taj não é um palácio, mas sim um mausoléu. Toda aquela estrutura magnífica e gigantesca de mármore branco é feita para abrigar dois túmulos. Foi construído pelo imperador mongol Shah Jahan para a sua esposa favorita, que foi enterrada lá junto com ele. Reza a lenda que eram mais de mil esposas e que muitas vezes Jahan dormia com as mulheres dos seus generais para mostrar o seu poder. Um ponto interessante é que as paredes do Taj são decoradas com escrituras em árabe. Acabei aprendendo através do meu amigo Mohammad que viajava comigo que eram todos frases do Alcorão. Foi interessante ver a influência do islã na Índia principalmente no apogeu do império mongol, que foi justamente a época em que foram construídos os principais monumentos da Índia.


Taj Mahal
Agra Fort

Após algumas horas admirando o Taj meu amigo e eu resolvemos nos sentar e relaxar um pouco antes de ir embora. Na Índia eles adoram tirar fotos com os estrangeiros. Muitas vezes te param na rua e pedem pra tirar foto com você. Era muito engraçado mas já havia acontecido comigo na Indonésia. Pode parecer que o nível da arrogância chegou ao teto da escala mas não, é verdade. Então estava eu tirando uma foto com uma família local quando senti que algo me tocava nas costas. A princípio pensei que era uma criança e não dei muita bola, mas segundos depois senti uma forte mordida nas costas e quando virei pra ver o que era vi um macaco que saiu correndo. Tive que ir à enfermaria para que o médico avaliasse a mordida. Ele me disse que não deveria me preocupar porque nunca havia escutado nenhum caso de raiva na região e a ferida era bem superficial. Não sei vocês mas eu realmente penso que por ser brasileiro não preciso me preocupar muito com vacinas e criminalidade no exterior porque imagino que nossa própria realidade é pior. Lição aprendida!

No dia seguinte voltamos a Nova Delhi para ir ao casamento do meu amigo. A cerimônia seria um dos pontos altos da viagem e aproveitei o dia para comprar o traje local. Acabei quebrando uma regra que tenho e escutei o conselho de um taxista que me levou a uma loja que ele mesmo sugeriu e não me arrependi, chamada Deli Haat. É importante que saibam algumas diferenças do casamento na cultura hindu e na católica. Os hindus juntam dinheiro durante anos para pagar pela cerimônia. A família da noiva paga pela festa e por isso é mais fácil para eles terem um filho do que uma filha. Se tem uma filha a família tem que arcar com os gastos astronômicos do casamento e senão tiver dinheiro para pagar ela ficará em casa por toda a vida. Por essa razão muitas vezes a família acaba sacrificando a filha ainda bebê e existem na Índia quase 50 milhões de homens mais do que mulheres.


A cerimônia duraria dois dias e o primeiro foi mais informal. Foi bom para conhecer a família do noivo, dançamos e cantamos. Algumas mulheres e o noivo receberam tatuagens de henna.O segundo dia começou durante a manhã, quando havia que ajudar o noivo a se pintar com uma espécie de pó de arroz. A festa seguiu durante a tarde quando o noivo recebeu a sua coroa carregada de notas de dinheiro que eram presentes de toda a sua família. Eram tantas notas que fizeram até alguns colares. Saímos desse salão seguindo o noivo que cavalgava com um cavalo branco e uma banda pelas ruas da cidade. O percurso demorou mais ou menos uma hora e na minha opinião foi o ponto alto do casamento. Vendo os hindus dançando contentes e animados daquela maneira me fez pensar que eles são tão bons de festa quanto nós latinos. Após o percurso chegamos o salão da festa principal e comemos e bebemos, mas claro, comida vegetariana e bebida sem álcool. A quantidade de comida era incrível: creio que haviam mais de 50 pratos diferentes e umas 400 pessoas. Por volta das 23:00 chegou a noiva e vale a pena olhar a foto que coloquei: muitos piercing, brincos, sari e tudo o que você imagina da cultura hindu. A cerimônia seguiu com todos tirando fotos com os noivos e comendo. Aproveitei e bati papo com muitos locais fazendo um milhão de perguntas à respeito da festa e da cultura deles. Às 04:00 começou a cerimônia religiosa e apesar de parece bem interessante foi toda em hindi. Somente eu, uma garota da França e uma família da Colômbia eramos estrangeiros. O sacerdote falava algumas coisas e todos riam, o que me fez imaginar que o cara era muito bom de piada. A festa terminou às 06:00 e voltei ao hotel pensando naquela cerimônia inesquecível.


Lotus Temple
   Noivo recebendo a coroa
Entrada triunfal da noiva
Local aonde Gandhi foi assassinado
Qtub Minar
Akshardham

Cheguei ao hotel, dormi duas horas e comecei com meu amigo um passeio de dois dias por Delhi. Ele não havia sido convidado para o casamento e no dia anterior averiguou a melhor maneira de percorrer os pontos turísticos da cidade. Acabou optando outra vez por um carro com motorista, que sairia muito mais barato que taxi ou tuk tuk. Fizemos uma pesquisa e priorizamos lugares com entrada grátis, assim que serve de boa referência pra quem percorrer Delhi sem gastar tanto! Durante esse dia percorremos:


Akshardham, o maior templo hindu do mundo. Muitas esculturas e pinturas com detalhes incríveis e entrada grátis. Proibido entrar com câmera, celular ou qualquer outro eletrônico. A única maneira de ter uma foto do local é pagando aos fotógrafos.

Humayun's Tomb, entrada paga mas barata: 200 rupias (U$3). Mausoléu de um emperador mongol. Tão grande quanto o Taj Mahal porém bem menos charmoso.

Lotus Temple, templo para meditação com as formas de uma flor de lótus.

Qtub Minar, entrada paga porém imperdível. Várias ruínas quase no meio da cidade.

Gandhi Smriti, entrada grátis e interessantíssimo. Essa é a casa aonde Ghandi viveu os seus últimos dias. Você irá aprender muito sobre sua história e visitará o lugar aonde ele foi assassinado em seu jardim.

Lodi Gardens, aonde terminamos o último dia. Um parque bem localizado em Delhi e perfeito para descansar um pouco.

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