domingo, 19 de junho de 2016

Já fui à Buenos Aires muitas vezes visto que moro na Argentina faz mais de 4 anos. E decidi aproveitar para falar um pouco da cidade. Já começo dizendo que Buenos Aires é minha capital favorita da América do Sul com muitas coisas para te manter ocupado durante dias. As opções de atividade, hotelaria e alimentação são muitas e com opções para todos os gostos e bolsos. Começarei dando algumas dicas da cidade e depois falando sobre as atividades mais interessantes.

ARGENTINA E BUENOS AIRES

Buenos Aires experimentou um grande crescimento no final do século XIX e começo do século XX e por conta disso muitos imigrantes europeus se instalaram no país. E apesar das incontáveis crises o país ainda tem uma classe média muito grande e uma capital culturalmente muito rica. Em Buenos Aires é comum encontrar camelôs vendendo livros nas ruas e, já até escutei, apesar de não acreditar, que há mais livrarias em Buenos Aires do que em todo o Brasil. O título de Suíça das Américas e a pungência econômica definitivamente ficaram para trás mas a vida cultural da cidade segue de vento em popa.

Caminhando por Buenos Aires você nota que grande parte da população tem sobrenomes e fisionomia típica européia, não muito diferente do sul do Brasil. Na verdade se não fosse pelo típico caos latino americano, muitos até poderiam se enganar e pensar que estão na Europa. A obsessão por conta disso é tanta que até já escutei a argentinos referindo-se a Buenos Aires como Paris Chico (Pequena Paris) e realmente a arquitetura de muitos lugares da cidade te faz lembrar um pouco o centro de Paris com seus edifícios de 5 à 7 andares. É até engraçado ao conhecer os argentinos ver que eles não se identificam como latinos mas sim como o povo mais europeu da América do Sul. Muitas vezes tive vontade de fazer algumas piadas. Mas bem, muitos brasileiros não se acham latinos por não falar espanhol...


A língua também é um ponto interessante afinal de contas eles falam espanhol ou castelhano? A discussão é longa mas a explicação mais simples é que as duas são na verdade a mesma língua, mas o argentino emprega alguns modismos ao falar, principalmente com as letras "y" e 'll'. Em outros países eles soam mais ou menos como a letra "i" em português, mas aqui ela soa como nossa "j". E o som é ainda mais marcado em Buenos Aires, quando falado pelos porteños, que é como os locais são chamados.



Casa Rosada
Evita vista desde a avenida 9 de Julio

A rixa com os brasileiros é presente mas se resume ao futebol. A verdadeira rixa que eles têm é com os chilenos. Mas principalmente agora quando a seleção brasileira não se encontra no seu melhor momento as piadas são inevitáveis. Se desentender é bobeira e a melhor solução é revidar a piada com outra mais! Sugiro dizer que a eleição do papa foi o único título internacional que essa geração de argentinos já viu, dizer que Vampeta tem mais mundiais do que Messi ou que Wando é melhor do que Gardel!


TRANSPORTE

Uma sugestão interessante para que permanecer na cidade por alguns dias é comprar um chip pré-pago. O chip é grátis se você colocar crédito e paga-se mais ou menos AR$5 por 3G por dia. A vantagem é que com 3G você pode usar Moovit (pra te guiar no transporte público), Waze (para saber se o taxista não está dando voltas - dica: ele dará volta e terá uma boa desculpa ao escutar sua reclamação) e os apps de táxi que falarei mais adiante. AR$80 deveriam ser suficiente para 4 ou 5 dias incluindo 3G e algumas mensagens. As operadoras aqui são Claro, Movistar e Personal.

Ao comprar sua passagem aérea para vir à Buenos Aires convém saber que há dois aeroportos na cidade. Um é o de Ezeiza, de onde chegam e saem a maior parte dos voos internacionais e está mais afastado. Ezeiza é na verdade outra cidade, como se fosse o aeroporto de Guarulhos em São Paulo. O outro aeroporto é Jorge Newberry - Aeroparque, de onde saem todos os voos domésticos e alguns internacionais para os países mais próximos, como Brasil e Chile. Como Ezeiza está muito afastado um táxi pode custar mais ou menos AR$600. Mas antes de falar de preços tenho que mencionar que a inflação na Argentina é muito alta, mais ou menos 40% ao ano, e os preços se referem a junho de 2016. A maneira mais barata de sair de Ezeiza é comprando passagem para os ônibus Manuel Tienda León, que custam mais ou menos AR$200. A linha sai de Ezeiza em direção ao Aeroparque fazendo uma parada próxima à rodoviária de Retiro no centro e depois retornando. O serviço funciona 24h. O percurso de Ezeiza ao centro sem trânsito leva mais ou menos 50 minutos e desde o Aeroparque ao centro mais ou menos 20 minutos. Para quem preferir os táxis, além da cobrança do taxímetro existe também uma cobrança por bagagem que pode ser cobrada ou não e pelo mais estranho que pareça é legal. Custa mais ou menos AR$15 por bagagem.


Puerto Madero
Mapa do Metrô de Buenos Aires


Para quem lê os meus relatos aqui no blog já sabe que eu confio mais no diabo do que em um taxista e Buenos Aires não só comprova a minha regra como também é um dos lugares que conheço onde mais se tem que estar atento em um táxi. Já vi acontecerem muitos golpes  e os mais comuns são: troco devolvido com notas falsas, taxímetro adulterado para cobrar muito mais caro e o último é um golpe que envolve um pouco mais de treino mas também é muito comum, quando após pagar a corrida o taxista diz que você somou mal as notas e te mostra o que você o entregou para que veja que falta dinheiro. Mas não se engane, ele trocou as notas rapidamente sem você ver. Assisti a um capítulo da série Scam City (Capitais do Delito) que está no Netflix e isso era exatamente o que acontecia com o apresentador.

Para se locomover em Buenos Aires as outras opções são os ônibus coletivos e metrô, aqui chamado de subte. O subte de Buenos Aires é o primeiro da América Latina iniciando suas operações em 1914 e cobre a parte mais central da cidade se estendendo por mais de 60 km. O serviço ganhou alguns vagões mais novos nos últimos anos mais de maneira geral são bem mais velhos do que os do Rio ou São Paulo.

Os serviços Uber, Cabify e Easy Taxi funcionam em Buenos Aires. Sempre os uso e nunca tive nenhum problema, ao contrário dos serviços normais. O problema é que ambos estão em uma linha cinza entre a legalidade e ilegalidade, já que apenas rádio táxis podem funcionar em Buenos Aires. Por isso é normal que ao subir em um, o motorista te peça que se sente no banco dianteiro.


E apesar da cidade ter sido eleita pela revista Wired como a única latino americana a entrar no ranking das 20 cidades "bike-friendly" do mundo os serviços de aluguel de bicicleta são pouco efetivos e quem acaba usufruindo das ciclovias é majoritariamente a população local, e não os turistas.


COMPRAS, SEGURANÇA E CLIMA


Os preços em Buenos Aires em geral são muito parecidos com os de uma grande cidade brasileira, mais ou menos como São Paulo. Até 2015 as coisas eram muito mais baratas porque a compra de moeda estrangeira era na prática proibida no país, alimentando um mercado negro que pagava um extra ao dólar, real ou euro. Mas com a saída dos kircheneristas, o presidente Mauricio Macri liberou a compra e os estrangeiros perderam o seu desconto ao vender sua moeda no mercado negro.

Tango em La Boca
Puerto Madero

Para os que querem aproveitar pra fazer umas comprinhas em Buenos Aires, infelizmente não há opções interessantes e baratas com exceção de alguns nichos. Eletrônicos por incrível que pareça chegam a ser mais caros do que no Brasil. Já a calle (rua em espanhol) Florida é conhecida pelas suas lojas, principalmente de roupas, e tem as melhores opções da cidade com algumas lojas de departamento e outlets. O outro nicho que eu encontrei são os produtos tradicionais daqui, como os orgulhos nacionais: doce de leite e alfajor! A marca mais conhecida é Havanna mas na minha opinião os melhores podem ser encontrados em qualquer Kiosco, como são chamadas as lojinhas espalhadas por toda a cidade onde se vendem bebidas, chocolates, crédito para celular, jornais e tudo mais o que você imaginar! Outro produto tradicional são os vinhos. As variedades mais comuns dos país são o tinto Malbec e o branco Torrontés. As lojas Winery estão espalhadas por toda a cidade e são uma boa opção de preços e variedades.


De maneira geral Buenos Aires é um pouco mais segura do que São Paulo ou Brasília. De qualquer maneira, no centro da cidade você verá a população levando suas bolsas e mochilas no peito ao invés das costas, e ladrões de carteira são comuns principalmente no subte (metrô). Eu disse que era um pouco mais segura, e não muito mais segura! No centro da cidade as pessoas caminham pelas ruas durante todo o dia e também à noite mas há alguns bairros mais perigosos, como qualquer lugar do mundo. La Boca especialmente é conhecida por ter ruas bem turísticas e também algumas mais barra pesada, para os que entrarem um pouco mais no bairro. Resumindo: usando um pouco de senso comum como não levar jóias ou mostrar dinheiro no meio da rua, você não deveria ter nenhum problema.

Vale dizer também que diferente do Brasil, onde as máquinas de cartão são onipresentes, aqui são muito menos usadas e menos ainda no interior do país. Os lugares que aceitam o real cobrarão um câmbio "especial" sendo mais vantajoso trocar a moeda. A  melhor opção e usar o seu cartão tanto para sacar quanto para pagar. Lembre-se de habilitá-lo para uso no exterior antes de sair do país e conferir a taxa oficial de câmbio. O ponto negativo de usar o cartão é que você paga IOF de mais ou menos 6%. De qualquer maneira, isso ainda é menor do que a margem das casas de câmbio.



Obelisco
Cemitério da Recoleta

O clima de Buenos Aires é bem parecido com o de Porto Alegre. O inverno é frio, porém as temperaturas raramente ficam abaixo de 3 Celsius. Aa média é em torno dos 10 Celsius. A neve cai mais ou menos uma vez a cada 10 anos e a última vez foi em 2007. A cidade é bem úmida todo o ano e no verão as temperaturas próximo ao meio dia ficam próximas aos 35 Celsius.


COMES E BEBES


Essa é sem dúvida uma das minhas partes favoritas da cidade. A parrila ou o churrasco é a comida típica por definição e para muitos é quase uma religião. As principais diferenças em relação ao nosso churrasco é que eles assam a carne na brasa, sem chamas, e a outra é que ao invés de comê-lo aos poucos como fazemos nós eles tiram toda a carne da "parrilla" ao mesmo tempo e comem em pratos ao invés de beliscar. Os cortes também são bem diferentes, ou seja, não existe picanha a não ser que você vá a lugares mais turísticos. Mas bem, se fosse para ir à Buenos Aires procurar picanha, você não precisaria ter saído do Brasil, correto? Aliás, turista brasileiro é o que não falta em Buenos Aires. Somos a nacionalidade que mais os visita. Os meus cortes favoritos são o bife de chorizo, matambre, morcilla e achuras. A morcilla é encontrada no sul do Brasil mas chamada de choriço. Mas não se engane o choriço argentino é a nossa linguiça, e o bife de chorizo deles é o que mais se assemelha à nossa picanha. As achuras são cortes que nós não comemos no Brasil porque são nada menos do que as vísceras, como fígado, rim e intestino. Vale à pena provar. As parillas são encontradas em todas as esquinas e minha sugestão se chama Siga La Vaca, que funciona como um rodízio. As parillas mais caras são encontradas principalmente em Puerto Madero.

O mate também é um hábito diário e é bem parecido com o chimarrão dos gaúchos. Mais do que desfrutar um chá, esse é o momento de socializar de todos argentinos e uruguaios.


Os porteños são bem boêmios e seus horários são parecidos aos dos espanhóis. As famílias almoçam e jantam tarde, e os horários dos bares e boates são muito mais tarde ainda. Não é incomum ver boates (ou boliche, como se diz por aqui) abrirem às 02:00 e fechar às 08:00. Mesmo as que abrem às 23:00 raramente estão cheias antes das 03:00. O bairro de Palermo é o mais tradicional reduto de bares e boates de Buenos Aires. O drink tradicional é o fernet com coca, que é uma espécie de conhaque com Coca-Cola. A bebida de origem italiana só é tomada por aqui. Para os que provem a bebida, convém dizer que no dia seguinte a sua ida ao banheiro será muito mais "prazerosa", já que o fernet é conhecida por seu poder laxante. Uma história engraçada é que uma vez estive na Itália com um amigo argentino e no bar meu amigo pediu fernet. O garçom o perguntou se ele era argentino e ao responder afirmativamente o garçom o disse que essa "merda" somente se toma na Argentina...



ATRAÇÕES TURÍSTICAS

Cemitério da Recoleta - Apesar de parecer programa de adolescente-rebelde-gótico o cemitério de recoleta é um museu à céu aberto. A quantidade de esculturas é gigante e faz lembrar os cemitérios mais famosos da Europa. Se por lá é chique visitar cemitérios, porque aqui não? Além da grande quantidade de esculturas, aí estão enterradas grandes personalidades argentinas como Eva Perón. É grátis e vale a pena gastar uma hora.



Bairro Recoleta - Um dos bairros mais tradicionais da cidade. Além de abrigar o cemitério que já mencionei também abriga a conhecida Flor Metálica (vide foto acima), e muitos parques e lojas. Vale à pena caminhar e conhecer sua atmosfera até um pouco aristocrática.


Congreso
Flor Metálica em Recoleta

Puerto Madero
- O que já foi uma zona portuária desabitada e reduto de drogas e prostituição foi totalmente reformulado e hoje abriga muita área verde e parte dos restaurantes e hotéis mais caros da cidade. Serviu de inspiração para o que o Rio de Janeiro quer fazer com seu Porto Maravilha. Os porteños mais tradicionais torcem o nariz para o bairro dizendo que é uma invenção do ex-presidente Menem. Destaque para a Puente de la Mujer. Vale a pena uma caminhada com paradas em seus restaurantes e cafés.

MALBA - Aos brasileiros lhes vá doer o coração entrar ao Museu de Arte Latinoamericano de Buenos Aires e descobrir que muitas obras brasileiras famosas se encontram lá, inclusive o Abaporu de Tarsila do Amaral. Além de obras de nossos compatriotas há também muitas outras importantes de nosso continente e exposições itinerantes. A última vez que fui havia uma exposição do fotógrafo peruano Mario Testino. A entrada custa AR$90.

    Abaporu no MALBA
    Por Buenos Aires
Mercado de de San Telmo - A parte principal do mercado é realmente incrível com pessoas já de idade vendendo itens de época - um verdadeiro mercado de pulgas. Infelizmente a parte mais externa do mercado acabou virando um imenso camelô com vendedores ambulantes vendendo produtos Made in China. Acontece todos os domingos no Bairro de San Telmo e também conta com espetáculos de dança e música.

La Boca, La Bombonera e Caminito - Se você busca a cultura do tango, esse é o seu lugar. Antes de mais nada vale a pena aclarar que o tango não é uma dança tradicional argentina, mas sim de Buenos Aires. Em La Boca, e mais especificamente no Caminito, você encontrará ruas e vielas coloridas com muitas opções de restaurantes e shows pelas ruas. Vale à pena conhecer. Mas lembre-se do que comentei no tópico de segurança em que mencionei que não vale muito à pena explorar o bairro sem saber por onde se anda. No mesmo bairro está o mítico estádio La Bombonera do tradicional Boca Juniors. Para quem não sabe seu nome vem de caixa de bombom, já que o estádio é muito pequeno. Fazendo com que a torcida, ou hinchada como se diz por aqui, muito perto do gramado. No estádio também há museu, loja do clube e visitas guiadas.

Avenida 9 de Julio e Obelisco - Dizem os argentinos que a Avenida 9 de Julio é a mais larga do mundo, mas qualquer brasileiro que conhece Brasília sabe que o eixo monumental é bem mais largo. De qualquer maneira, é a avenida principal de Buenos Aires e aonde você encontrará muitos de seus cartões postais sendo o mais conhecido o Obelisco que está no cruzamento com a Corrientes.


Cemitério de Recoleta
Interior do Malba

Casa Rosada - Bem próxima à 9 de Julio está a famosa Casa Rosada, sede do poder executivo argentino, em frente à Plaza de Mayo. Há visitas pelo palácio, que parece um museu. Um hábito dos turistas é tirar fotos com os guardas. E um hábito dos argentinos é protestar adiante da Casa Rosada. Os protestos são diários e ininterruptos e o Palácio inclusive foi cercado por grade faz alguns anos.


Congreso - O congreso (com uma "s" mesmo) está próximo à Casa Rosada, seguindo pela avenida Rivadavia. Dá pra conhecer caminhando pela 9 de Julio o Obelisco, a Casa Rosada e o Congreso durante a mesma manhã. A arquitetura do lugar é linda e há visitas guiadas. Assim como na Casa Rosada, espere encontrar manifestantes.


Teatro Colón - Também próximo às últimas atrações mencionadas está o teatro Colón que é um dos mais tradicionais do nosso continente. Frequentemente há concertos de artistas brasileiros, como Caetano e Chico, e do mundo. Há visitas guiadas que custam mais ou menos AR$200.



Seu Raulino ao lado de uma sósia de Maradona no Caminito
Túmulo de Evita no Cemitério de Recoleta

Palermo - Outro bairro tradicional da cidade e reduto boêmio, como já havia mencionado. Em Palermo também se encontram muitas atrações como seus bosques, o jardim botânico e o planetário. Vale à pena caminhar pelo bairro principal e seus sub bairros, como Palermo Soho, Palermo Hollywood e Palermo Viejo.

Tigre - Ao norte de Buenos Aires está a cidade de Tigre e uma atração tradicional são os passeios de barco de uma ou duas horas pelos seus canais. Custa entre AR$150 e AR$200 dependendo do percurso, e saem da Avenida Lavalle.

Passeios de barco ao Uruguai - Há barcos que ligam a Argentina ao Uruguai atravessando o Rio da Prata. Não recomendo fazê-lo senão tiver ao menos alguns dias para passear, pelo tempo e também pelos preços. Vale a pena comprar as passagens com antecipação por conta dos preços mais baratos. O percurso mais curto e barato sai de Buenos Aires até Colonia del Sacramiento no Uruguai, levando mais ou menos 1 hora. Há barcos que seguem até Montevidéu, mas a minha sugestão é seguir de barco até Colonia, e depois de ônibus até Montevidéu. Já mencionei essas cidades aqui no Blog.
Buenos Aires - FINAL

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