terça-feira, 24 de junho de 2014

A geografia chilena sempre me chamou a atenção: em alguns lugares seu território é tão estreito de leste a oeste que pode ser cortado em mais ou menos uma hora de carro. Mas já de norte a sul o país tem mais de 4000km. Só para efeito de comparação o Brasil tem 4300km de norte a sul. Mas a similaridade termina por aí. O nosso clima é mais homogêneo e nosso relevo muito mais plano. Enquanto que no Chile ao atravessar o país de oeste à leste você necessariamente sai de uma praia e chega à cordilheira dos Andes. E além disso você tem paisagens tão diversas como o deserto do Atacama ao norte e a ilha de Terra do Fogo ao sul. E é à respeito da região mais ao sul do país que quero escrever.

Por motivos de trabalho fui à Punta Arenas algumas vezes. Para quem não sabe essa é a capital da região mais austral do Chile, chamada de Região XII - Magalhães e Antártica Chilena. As regiões chilenas, que são o equivalente aos estados brasileiros, são numeradas. E acabei usando Punta Arenas como porta de entrada para explorar um pouco essa parte do país. E para quem achou estranho o fato da região ter Antártica no nome saiba que o Chile, assim como a Argentina e alguns outros países, reivindicam território por lá.



Punta Arenas no verão
Bandeira da Região XII - Magalhães e Antártica Chilena

Punta Arenas

Como mencionei acima Punta Arenas é a porta de entrada para conhecer essa região do país. Há vários voos diários saindo de Santiago. A cidade cresceu muito pela navegação até o século XIX já que antes da abertura do Canal do Panamá a maneira mais rápida de atravessar do Atlântico ao Pacífico era pelo estreito de Magalhães, que banha a cidade. Com a diminuição do uso do Estreito como rota de navegação o foco da economia mudou e hoje são importantes as atividades petroleiras, criação de ovelhas e o comércio. A forte expansão da época definitivamente ficou para trás e isso é bem visível principalmente no inverno à noite, quando a cidade fica deserta já que todos estão em suas casas aproveitando a calefação.

A arquitetura da cidade herdou semelhança do continente europeu pelas ondas migratórias que vieram de lá e fazem com que seja muito parecida também com Ushuaia, na Argentina. Mas na minha opinião a irmã chilena conta com melhor infra estrutura e limpeza, apesar de que o título de cidade mais austral do mundo leva muito mais turistas à Ushuaia. Punta Arenas é também porta de saída para muitas expedições antárticas. Apesar de grande maioria das expedições turísticas saírem de Ushuaia, a maior parte das cientificas internacionais usam Punta Arenas como porta de saída por maiores facilidades de importação de instrumentos e materiais.



Cemitério Sara Braun
Punta Arenas no outono

Apesar de muitas vezes visitadas apenas por quem está de passagem para ir à Torres del Paine, Antártica ou Terra do Fogo há alguns lugares legais para se conhecer para os que passarão mais tempo em Punta Arenas:


Cemitério Sara Braun - Não tenho nenhuma mania mórbida de visitar cemitérios mas assim como em alguns outros espalhados pelo mundo você pode encontrar aqui muitas obras de arte em seus túmulos e mausoléus. O paisagismo é também outro prato cheio para o passeio que leva mais ou menos meia hora.


Club Andino Centro de Ski - O mais bacana de se fazer no Andino é esquiar no inverno. A estação é menor que Cerro Castor em Ushuaia. As duas tem um problema semelhante: devido aos dias curtos no inverno a hora de fechar é bem cedo. Mas não pense que no verão há estação está fechada. Apesar de não haver neve o teleférico continua aberto e é bem visitado pelos interessados em fazer trekking passando pelos seus bosques e conhecendo sua flora e fauna.


Ilhas Magdalena e Marta - Os passeios de barco levam mais ou menos uma hora para chegas às ilhas aonde se pode avistar colônias de pinguins e leões marinhos vivendo em seu habitat natural.


Caminhar pela costa margeando o Estreito de Magalhães e conhecendo as aves locais descansando nos piers. Além disso há algumas estátuas e monumentos espalhados como o que homenageia Fernão de Magalhães.


Zona Franca - Se os brasileiros geram emprego em Miami porque os argentinos não podem gerar empregos no Chile? Vá entender... Com preços baratos a zona franca de Punta Arenas é bem visitada para as compras mais variadas: carros, eletrônicos, roupas de inverno e etc.


Cassino Dreams - Para os que querem jogar um pouquinho o Dreams oferece muitas opções de mesas e caça níqueis. Conta também com hotel, restaurante e bar no estilo rooftop.


Estreito de Magalhães

Esse é o canal que separa o continente Americano da ilha de Terra de Fogo. Já que não há pontes a maneira mais comum de atravessar o canal por via fluvial é usando o serviço de balsas, que só existe do lado chileno, em sua parte mais estreita chamada Punta Delgada. A viagem demora mais ou menos 20 minutos. O ponto negativo é que os fortes ventos da região podem atrasar ou até cancelá-las. A única maneira dos que seguem suas expedições de moto ou carro à Terra do Fogo é usando esse serviço de balsas. Saiba que não há maneira de atravessar pelo lado argentino. É bem interessante observar os viajantes, inclusive muitos brasileiros e também estrangeiros que estão viajando por todo o continente desde os Estados Unidos ou Canadá.

Após atravessar o canal você entra no lado chileno da ilha de Terra do Fogo e pode seguir ao lado argentino sendo Ushuaia a cidade mais visitada e já falada aqui.



Estreito de Magalhães
Umas das balsas que corta o Estreito de Magalhães

Torres del Paine
A cereja do bolo do sul do Chile e razão principal para escrever essa postagem! Na minha opinião um dos parques mais bonitos que já visitei e destino obrigatório na América do Sul para os amantes do trekking. Além da beleza natural com sua fauna e flora de clima temperado o parque possui muito boa infra estrutura podendo ser percorrido em carro ou caminhando. Há também um passeio de barco que pode ser feito pelo lago Grey aonde você avista a geleira de mesmo nome. Mesmo no verão raramente faz calor e fortes ventos na região são muito comuns por isso vá preparado. Os preços no verão são mais caros do que no inverno já que essa é a alta temporada, quando o movimento é muito maior, principalmente de europeus e estadunidenses. Estuda-se limitar o número máximo de turistas no verão para melhor conservar o parque apesar de que na época que fui ainda não havia sido implementado. É também uma ótima idéia levar comida, pois as opções são poucas. Há lugares para acampar, refúgios e hotéis apesar de que os preços são um pouco salgados. Por conta disso muita gente acaba se hospedando na cidade mais próxima do parque, chamada Puerto Natales.

Para os amantes do trekking e com um pouquinho mais de tempo se pode percorrer os circuitos chamados de "W" e "O". O circuito "W" percorre 80km em 4 dias enquanto o "O" percorre 130km em 8 dias. As paradas para descansar acontecem nos refúgios. Apesar de muito recomendado por dois amigos pelo pouco tempo disponível e por ser inverno fiz apenas um passeio de 1 dia pelo parque percorrendo com um grupo e um guia alguns de seus maiores atrativos naturais: cachoeiras, a geleira Grey e o cartão postal do parque chamado Cuernos del Paine. Mas o clima no inverno não cooperou e o dia esteve bastante nublado e com pouca visibilidade. Nevou um pouco e fez muito frio! Terminamos o dia tomando whisky com gelo de pequenos icerbergs que flutuavam pelo lago Grey. O passeio foi bem turistão mesmo e deu vontade de voltar no verão pra fazer o "W".




Cuernos del Paine visto pelo lado de atrás
Lago Grey
Cachoeira em Torres del Paine
Geleira Grey

E agora você deve estar se perguntando se vale mais à pena visitar o parque no verão ou no inverno. Se a sua idéia é fazer trekking não há nem muito o que pensar - verão! Mas saiba também que no inverno a paisagem muda completamente e a neve dá um charme especial.


Chile - Punta Arenas, Estreito de Magalhães e Torres del Paine - FINAL

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