terça-feira, 12 de setembro de 2017

Após ficarmos tão impressionados com São Petersburgo, era hora de seguir em direção à Moscou. Como são mais de 700 km de viagem, optamos por ir de trem, que é (bem) mais em conta que avião. O interessante é que olhando o mapa da Rússia, apesar do longo percurso, parece que você não viajou praticamente nada. A estatal russa de trens faz essa viagem e você pode escolher entre o trem rápido ou o normal. Escolhemos o rápido, que levou 3h30 e custou U$80. Eu fiz a compra no próprio site, com um mês de antecipação para conseguir esse preço. A viagem foi bem agradável, sem parada.


Catedral de São Basílio à noite


Chegamos à Moscou debaixo de chuva e fomos pegar um táxi. Quem me conhece sabe que eu tenho cisma com taxista porque esse é o lugar em que a malandragem espera. Pra ficar bem claro, eu confio mais no diabo do que em taxista! E já havia escutado que em Moscou essa malandragem é multiplicada por dois. E não é que eles me pareceram piores ainda? Para um percurso de 3 km, queriam cobrar mais ou menos 2300 rublos (R$130)! Óbvio que o taxímetro não funcionava e chuva e trânsito e desculpa e desculpa... Decidi ir a um KFC próximo, onde havia wifi grátis, e pedi um uber que, custou 210 rublos (R$12)! Menos de um décimo do valor! Mais uma vez minha teoria à respeito dos taxistas foi colocada à prova e funcionou! Como chegamos ao hotel um pouco tarde e o dia estava feio, acabamos ficando por lá mesmo.


Perdidos na estação de trem

No dia seguinte, acordamos renovados e fizemos um free walking tour em espanhol com um guia local. Eu havia dito que não vimos muitos turistas estrangeiros em São Petersburgo, correto? Em Moscou também foi assim e ao contrário dos grupos gigantescos de free walking tour que estávamos acostumados, lá o nosso grupo tinha menos de dez pessoas. Começamos pela praça onde fica o Teatro Bolshoi, que tem o sugestivo nome de Praça do Teatro. A fachada é linda, mas infelizmente o teatro estava em recesso e o próximo espetáculo seria em dez dias. Que pena que não deu pra ir, mas a dica pra quem for na época correta é comprar os ingressos on-line com antecipação ou apenas fazer a visita guiada mesmo. Apenas atravessando a rua se chega à Praça da Revolução, que é marcada por uma grande Estátua de Karl Marx. De lá, seguimos à famosa Praça Vermelha, que reúne várias atrações da cidade. Ir à Moscou e não ir à Praça Vermelha é como ir à Paris e não conhecer a Torre Eiffel ou ir à Goiânia e não conhecer o Bar do Kuka... Ainda com o guia de nosso walking tour, vimos a Catedral de São Basílio, o Jardim de Alexandre com o Túmulo do Soldado Desconhecido, onde se pode assistir à troca da guarda, a Catedral de Cristo Salvador e terminamos na Ponte do Patriarca, onde se tem uma das melhores vistas do Kremlin. A catedral de Cristo Salvador tem uma história interessante. Ela havia sido construída no século XIX mas foi demolida 50 anos depois durante a URSS. Em seu lugar foi construída uma piscina aberta gigantesca que era aquecida durante todo o ano, permitindo a população se banhar mesmo nos mais duros dias de inverno. Outra vez, 50 anos depois, a piscina foi demolida para a construção da igreja atual, que é uma réplica da original. 


Meu pai de frente a Estátua de Karl Marx na Praça da Revolução

O tour foi focado nas explicações de nosso guia, que apesar de ter falado dos czares, apenas os usou como trampolim para começar a dizer sobre a revolução russa e destacar bastante o comunismo e a URSS, que é o que mais me interessava já que havia escutado muito dos czares em São Petersburgo. Ele era meio revolucionário e como se chamava Igor eu o apelidei de Igor Guevara! O cara entendia bastante de história russa e citava tudo com datas e nomes, de qualquer forma ele deixava transparecer bastante o amor que tinha pela URSS. Disse que Gorbachev destruiu o país, Yeltsin era um bêbado safado e que a indústria soviética fabricava produtos de alta qualidade. Ele forçava muito a barra com alguns de seus argumentos, mas devo admitir que vários eram válidos quando dizia por exemplo que a história russa lida no ocidente altera muitos fatos. Um exemplo era Ivan o Terrível, que ele disse que essa alcunha só existe no ocidente e que a razão é ele ter modernizado o país. Eu achava que a maioria dos russos que viveram o comunismo se lembravam dela com desdém. Apesar de meu espaço amostral ser bem reduzido, apenas nosso guia, comecei a pensar que mais gente pensava nessa época com alegria.

Minha irmã (bailarina) em frente ao Teatro Bolshoi

Durante a tarde, entramos no Kremlin. Eu tinha uma ideia totalmente diferente, comparado ao que ele realmente é. Eu pensava que era apenas o local de trabalho do presidente, assim como o Palácio do Planalto, no Brasil. O Kremlin é uma área gigantesca onde está o governo nacional e muitas outras construções, como igrejas e mausoléus. Há dois ingressos diferentes para entrar: um para as igrejas e outra para o Museu Armoury. Compramos o ingresso para as igrejas porque é mais rápido, com menos fila e mais barato.
Para entrar no Museu é melhor comprar ingressos antecipados. O legal do Kremlin é que como o lugar é todo murado, foi o único da cidade onde sobreviveram construções mais antigas, já que todo resto da cidade foi queimado durante a Guerra Pátria, como eles chamam a invasão napoleônica. Napoleão tentou conquistar a parte europeia da Rússia, mas os russos usaram uma tática de queimar suas cidades e plantações e envenenar seus rios. Defina coragem! Queimaram suas próprias cidades! Tudo isso, somado com o inverno russo, acabou derrotando Napoleão, que chegou a se instalar em Moscou por algumas semanas. A Primeira Guerra Mundial é chamada por eles de Grande Guerra Pátria. Já voltando ao Kremlin, adorei conhecer as igrejas e os jardins. As igrejas são bem antigas e com muitos túmulos interessantes, inclusive o de Ivan o Terrível. A entrada custa 500 rublos (R$28) e vale cada centavo.


Uma das torres do Kremlin
Rocio e eu no Kremlin aguardando o Putin para nossa reunião

Começamos o dia seguinte no Mausoléu de Lenin, que é grátis e está aberto entre as 10h e 13h. Os maiores heróis do país estão lá, incluindo Iuri Gagarin, Stálin e obviamente Lenin! Os túmulo dos dois primeiros estão em um jardim, enquanto Lenin está sozinho no mausoléu como um verdadeiro herói da nação. É incrível ver que quase cem anos após sua morte, seu corpo está conservado. O mausoléu tem um clima eletrizante e cheio de soldados. É proibido tirar fotos e até mesmo parar. Você tem de caminhar constantemente. Há quem diga que não é o corpo de Lenin, mas um boneco de cera. Teorias da conspiração!



Túmulo de Stálin, diga-se de passagem concorreu ao Nobel da Paz duas vezes

Em seguida, entramos à Catedral de São Basílio, que na minha opinião sempre foi o cartão postal de Moscou e também da Rússia. Foi bem interessante conhecer o complexo, construído no século XVI sob ordens do czar Ivan o Terrível. Reza a lenda que após a construção, ele cegou o arquiteto para que não pudesse reproduzi-la em outro lugar. As várias torres são (quase todas) independentes e abrigam nove igrejas diferentes, como a Igreja da Trindade e a Igreja de São Gregório. Cada uma com seu nome e sua história. As torres, inclusive, foram construídas em épocas diferentes. O interior é bem labiríntico e rico em detalhes, mas devo admitir que preferi o exterior. A entrada custou 500 rublos (R$500).



Kremlin visto desde a Ponte do Patriarca

Durante a tarde, fizemos outro passeio com guia, dessa vez pelo metrô de Moscou. Já havia escutado que o metrô de Moscou é gigantesco e muito bonito, entretanto eu imaginava que quem dizia isso aumentava (um pouco) as coisas. E o passeio provou que eu estava muito enganado. O passeio com guia custou 15€, que inicialmente pareceu meio salgado mas, depois que terminamos, devo admitir que valeu muito à pena. Outro ponto interessante é que ao contrário do guia anterior que era local, esse guia era um espanhol que morava lá e nos passou uma visão menos romântica. Nada contra o anterior, pelo contrário, é legal ver duas visões diferentes dos mesmos fatos. Mas, voltando ao passeio, o metrô é incrível e muitas das estações parecem até palácios ou museus. Uma profusão de mosaicos, pinturas, lustres e tudo mais. E o guia contava fatos da história russa mencionados na arte das estações. Impressionante! Sem aumentar nada, posso dizer que foi praticamente uma viagem no túnel do tempo, de volta ao auge da URSS. Além disso, o metrô é gigantesco, com mais de 200 estações e 350 km de extensão. Só pra comparação, o metrô de São Paulo tem 72 estações e 80 km de extensão. O paradoxal disso tudo é que apesar do metrô ser imenso, o trânsito da cidade pareceu pior que o de São Paulo. Sim, isso não é um erro de digitação: o trânsito de Moscou é pior que o de São Paulo!



Uma das estações do metrô de Moscou
Pintura no metrô de Moscou
Escultura no metrô de Moscou

Durante o nosso último programa do dia, fomos ao supermercado que fica no Shopping GUM, ao lado da Praça Vermelha. O supermercado tem a mesma atmosfera que os mercados da época da URSS, com produtos típicos e de época. Já havíamos visitado esse supermercado com nosso guia, Igor Guevara, e eu havia pensado em fazer a piada de que a diferença é que agora as prateleiras estão cheias, mas deixei passar... O lugar é bem turistão mesmo, mas vale dar uma passada após um dia de muito bater pernas pela cidade para comprar souvenirs para a família.

Nossa passagem pela Rússia já estava chegando ao fim e era hora de deixar os meus pais no aeroporto e nos despedir. No dia seguinte, fomos de metrô à Rua Arbat pra conhecer o local, que é cheio de artistas de rua e souvenirs de gosto duvidoso. Nosso plano era seguir ao Parque Gorkiy, mas tínhamos de estar no aeroporto no final da tarde e preferimos não arriscar. Voltamos ao hotel, agarramos nossas mochilas e subimos em um táxi em direção ao aeroporto. Já fazia bastante tempo que eu não conversava com ninguém fazendo mímica, mas nesse táxi vi que não estou muito enferrujado (rs.)! Apenas com mímica o taxista me explicou qual caminho era mais rápido e também o preço do pedágio da estrada mais longa (rs.)! Chegando ao aeroporto, era hora de despedir das cervejas artesanais e das vodcas russas e se preparar para o nosso voo em direção ao Irã! Isso fica para o próximo capítulo.

Irã - Parte 1 - Teerã e Esfahan

Um comentário:

  1. Boa noite meu amigo Pedro, quero lhe dizer que foi um prazer poder te receber no mausoléu da PM e lhe passar um pouco da história do MMDC e também ouvi um pouco de suas andanças pelo mundo...obrigado.

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