quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Após Teerã e Esfahan, seguimos à Yazd. Viajamos outra vez de ônibus, com o mesmo conforto e pagando barato, mais ou menos U$5. A única diferença foi que, dessa vez, viajamos durante o dia, pois a viagem era mais curta. Yazd tem esse nome devido às torres que recebem os ventos e os direcionam às casas abaixo, separando os ares frios e quentes. Só pela invenção, criada por lá, já dá pra imaginar como o lugar é quente! Chegamos ao final da tarde. Escolhemos um hotel, pelo mesmo site Seven Hostels, chamado Dalane Behesht, simples, mas muito bem-localizado.


Mesquita Jame em Yazd durante à noite
Pra não perder tempo, fizemos o check-in e já saímos por Yazd. Começamos nosso passeio pela Mesquita Jame, que tem o mesmo nome da de Esfahan. A mesquita reunia não apenas turistas, mas também a população local rezando. O templo fica acima de um qanat, que é o nome dos sistemas de transporte de água dos rios até as cidades, inventados no Irã antigo. Na mesquita, havia uma criança iraniana vestida com o uniforme da seleção brasileira, com o nome do Oscar. Era muito engraçado porque ele estava dentro da mesquita treinando a comemoração de gols. Nada mais brasileiro!


Torres que dão o nome à cidade de Yazd, conduzindo o vento às casas abaixo

No dia seguinte, fomos ao Museu da Água, que havia sido recomendado pelo Tripadvisor para aprender sobre a tecnologia desenvolvida para levar água às cidades. Você deve estar pensando que um museu que fale de água é tão interessante quanto assistir capim crescer, mas naquela região inóspita a população precisou ser criativa para sobreviver no passado. Aprendemos sobre os qanats e suas construções. O mais interessante foi entrar em um poço profundo de qanat e ver como a temperatura era mais agradável, cerca de 15°C menos do que na superfície!

Seguimos a um templo do zoroastrismo, chamado Templo do Fogo, mas ao chegarmos descobrimos que iria fechar em cinco minutos. Entramos gratuitamente e tiramos algumas fotos da fachada. Eu estava bem interessado por conhecer mais essa religião visto que é a primeira religião monoteísta do mundo, sendo que a maioria dos seguidores vivem no Irã. Os costumes são bem interessantes, como lhes direi mais à frente.


Templo do Fogo em Yazd

Durante a tarde, caminhamos por alguns lugares, entretanto como era sexta (o domingo deles), estavam todos fechados. Voltamos ao Centro Histórico e aproveitamos para tomar suco e comer algo em um restaurante típico no terraço, admirando o pôr do sol e suas cores naquela cidade tão linda. Aliás, os terraços são um dos programas imperdíveis de Yazd. O maior charme da cidade, na verdade, não é nenhum monumento, mas os muros, casas e terraços, todos feitos de adobe. As ruas são estreitas, transformando o lugar em um imenso labirinto. Os muros das casas são muito altos, alguns com mais de quatro metros de altura. A razão não é segurança, mas sim sombra, já que como eu disse, o clima no verão é cruel.


Minha vida de Global (cof! cof!) no Irã

O nosso plano inicial era viajar de Yazd à Shiraz e de lá contratar algum passeio até as ruínas de Pasárgada e Persépolis no caminho. Mas, enquanto caminhávamos por Yazd vi que havia passeios à Shiraz parando nas ruínas. Pareceu perfeito, já que elas ficam entre as duas cidades e, assim, ganharíamos um dia. Acabamos contratando o serviço que, apesar de não ter sido barato para os padrões deles, é barato para os nossos, €30. E ainda conseguimos incluir a Torre do Silêncio e Necrópolis no meio. Éramos apenas nós três no carro e o motorista era bem-educado. Imaginei que seria cansativo passar por tantos lugares e, inevitavelmente, debaixo do sol quente, mas foi legal.

Os quatro lugares em que paramos no caminho entre Yazd e Shiraz foram:

Torre do Silêncio - Esse complexo é onde os adeptos do zoroastrismo se despediam de seus mortos. O ritual era extremamente interessante. Eles os levavam ao topo das torres. O corpo era amarrado em cordas com os membros esticados e na posição horizontal. A porta do templo era fechada e os urubus comiam os corpos! Os ossos caíam em uma vala.


Marina na Torre do Silêncio

Pasárgada - Sempre sonhei em conhecer esse lugar desde a época do colegial quando eu era fascinado por Manuel Bandeira. Pasárgada foi a capital do império persa na época de Ciro. Ele foi conhecido por ser um conquistador benevolente que não impunha sua religião nem costumes nos povos conquistados desde que jurassem lealdade a ele. Hoje, as ruínas estão em más condições se comparadas com as de Persépolis. O mais interessante é o túmulo de Ciro que, infelizmente, foi saqueado por Alexandre O Grande. O outro lado do complexo ficava um pouco longe, mas subimos no ônibus de alguma excursão, fazendo cara de desentendidos.


Rocio e eu em frente ao túmulo de Ciro em Pasárgada

Necrópolis - Lá está o túmulo de Dario, considerado pelos iranianos como o maior imperador persa e chamado de Rei dos Reis. Aliás, durante o seu reinado, o império persa viveu seu apogeu. Após a morte de Ciro, enquanto seu filho estava no Egito, um impostor sentou no trono e se fez passar por rei. Dario, que não tinha direito ao trono, o matou e foi coroado imperador no dia seguinte. Para mim, mais parece que Dario quis justificar o seu regicídio com uma linda história, mas… Além de sua tumba, estão lá também as de Xerxes, Artaxerxes e Dario II. Xerxes marcou o início do declínio do império persa após perder uma batalha na Grécia, contada (como uma fábula) no filme/quadrinhos 300.

Ao chegar a Necrópolis pensamos em não entrar, pois os mausoléus podem ser vistos no topo das rochas desde fora do portão de entrada. Mas, já que estávamos lá, decidimos entrar. Há uma colina estrategicamente colocada (provavelmente construída) que te impede ver as esculturas abaixo dos túmulos.


Rocio em frente aos túmulos na Necrópolis
Esculturas escavadas nas rochas na Necrópolis

Persépolis - E para fechar com chave de ouro, fomos à Persépolis. Não há como comparar Pasárgada com Persépolis, já que esta é muito maior e está em melhores condições. As ruínas são do século VI A.C., mas foram cobertas por areia e só foram escavadas em 1932 por arqueólogos da Universidade de Chicago, na época em que o Shah iraniano queria ocidentalizar o país, antes da revolução. Contratamos uma guia na entrada, que cobrou €10 para os três, e valeu muito a pena. Cada detalhe no templo tem um significado! Guias são sempre uma caixinha de surpresas, mas essa compensou.


Portão de Todas as Nações em Persépolis

Persépolis foi construída por Dario e não havia templo religioso no complexo, justamente, porque ele não queria ofender os povos conquistados. Dario já era tolerante no século VI A.C. e nós, 27 séculos depois, ainda não aprendemos a lição! Os portões de entrada de Persépolis são incríveis e muito detalhados. Há várias esculturas em pedra e colunas em bom estado de conservação. Fiquei realmente surpreso. E pensando que se Bandeira tivesse conhecido o Irã ele teria escrito "Vou-me embora pra Persépolis" em vez de "Vou-me embora pra Pasárgada"!

Povos conquistados levando presentes a Dario em Pasárgada
Escultura em Pasárgada e hoje símbolo da linha aérea de bandeira iraniana
Parte de Pasárgada

Havíamos saído de Yazd às 08:00 e com tantas ruínas acabamos chegando em Shiraz às 19:30. Ficamos no albertue Golshan (U$53 por noite para o quarto para 3 pessoas). Muitas coisas no Irã são baratas, mas a hospedagem definitivamente não é uma delas. Estávamos tão cansados que apenas jantamos e capotamos!

Na manhã seguinte, visitamos duas mesquitas. Começamos por Shah-e-Cheragh e seguindo à Seyes Hossein, que estava próxima. As duas mesquitas eram diferentes das de Esfahan, que funcionam mais como museu do que como lugar de adoração. Já, nessas duas, as pessoas vão para rezar. Imagino que, por isso, havia guias levando os (pouquíssimos) turistas presentes. Digo pouquíssimos porque vi apenas nós três! Mas, foi legal ter guias (que era grátis) porque eram bem simpáticos e respondiam nossas perguntas. Obviamente, evitamos perguntas mais complicadas. Só fomos a de Hossein por sugestão da guia de Cheragh, e acabei gostando ainda mais! Nós no ocidente preocupados com o extremismo religioso no Irã, enquanto eu ganhei presentes no templo! Ao entrar, o rapaz que me registrou, quando viu que eu era estrangeiro, me deu um pacote de frutas secas. Ao sair, o guia me deu um anel e me disse que sempre que olhasse ao anel eu deveria me lembrar de seu país e desse templo. A hospitalidade iraniana é, realmente, de outro planeta!


Mesquita Shah-e-Cheragh em Shiraz

Durante à tarde visitamos os mausoléus de dois grandes poetas iranianos: Hafez e Saadi. Gostei mais do Mausoléu de Hafez. Ele é tido pelos iranianos como o maior poeta do país. Se você achou uma coincidência Shiraz levar o mesmo nome do tipo de vinho, surpresa: a cidade deu o nome à uva Shiraz, que vem de lá. Os poemas de Hafez, por exemplo, incluem muitas referências a bacanais embalados por quantidades cavalares de vinho. Totalmente diferente de hoje! Caminhamos do hotel ao mausoléu de Hafez e, nesse momento, vi que Shiraz não é uma cidade nada agradável para se caminhar. O trânsito é caótico e atravessar as ruas é perigoso, assim como em Teerã, porém em menor escala. Acabamos indo ao Mausoléu de Saadi e voltando ao hotel de táxi. Quem me conhece sabe que eu odeio taxistas, mas realmente não deu para evitar. E sabe que até criei afeto por alguns… vai entender…


Mausoléu de Hafez em Shiraz
Mesquita Cor de Rosa em Shiraz

Em nosso último dia, fomos à Mesquita Nasir al-Mulk, mais conhecida como Mesquita Cor de Rosa. Sei que pode parecer uma overdose de mesquitas, mas essa foi especial, provavelmente, minha favorita durante a viagem. A mesquita deve ser visitada entre as 8h e 10h, quando o sol incide nos vitrais, refletindo as luzes do lado de dentro. Surreal! Tiramos foto até não poder mais. Detalhe interessante, os tapetes têm um forte cheiro de chulé!

Durante a tarde, fomos ao Baazar Vakil. O bazar é bem grande e percorrê-lo por completo é programa para um dia inteiro. Acabamos entrando por um lado onde vendiam carregadores de celular e camisetas da Apple. Nada muito interessante... Na saída, passamos pelo lado dos tapetes e artesanato, mas não tão impressionante como o de Esfahan. Terminamos o dia caminhando pelo forte da cidade, Arg-e Karimkhan. Não chegamos a entrar, já que todos nos diziam que é mais legal de fora do que de dentro. Uma das torres é, consideravelmente, torta.

Nosso último programa em Shiraz (e no Irã) foi o Jardim Eram, um dos vários espalhados pela cidade. Após duas semanas tão intensas, em todos os sentidos, era hora de dizer adeus ao Irã. Fizemos o roteiro mais tradicional pelo país e tivemos o prazer de conhecer pessoas muito educadas e hospitaleiras. Espero um dia poder voltar e conhecer os lugares que não conheci. Quem sabe no casamento de meu amigo!?

Jordânia - Petra e Aqaba

Um comentário:

  1. Nao encontrei a possibilidade de falar contigo no post de Saariselka.
    Queria mais informacors sobre o mirante Aurora onde vc se sentava para ver a aurora
    Quantos.km vc tinha que.percorrer do centro da cidade ate chegar nele?
    Meu nome.e.gilda e tenho planos de ir a Saariselka em marco. Meu email é gildaval@ gmail.com. beijos seu blog ê o maximo

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