Chegamos à Isla Margarita e decidimos alugar um carro. Como eu já havia mencionado o combustível por lá é subsidiado pelo governo. Tomei um susto quando subi ao carro e o tanque estava menos da metade cheio. E quando fui reclamar descobri que pra agência pouco importa se você devolve o carro com o tanque cheio ou vazio, pra eles dá igual.
Com nossa máquina em Isla Margarita |
Isla Margarita |
Epopeia para chegar à pousada em Margarita
Se segure que aí vem história! Saímos da locadora por volta das 21:00 e tínhamos que encontrar nossa pousada. O aeroporto fica do lado leste de Margarita mas a pousada ficava do lado oeste. Nos desentendemos com o GPS e aí começaram os problemas. Demoramos tanto para achar a pousada que quando vimos já tínhamos o tanque quase vazio. Procuramos um posto de combustível e nesse momento vi como Margarita é perigosa. Os postos estavam todos fechados e o pessoal de segurança ficava armado de guarda no teto com armas gigantes. Quando nos aproximávamos para explicar a situação eles nos mandavam correr e apontavam as armas. Fomos à uma delegacia perguntar se eles não podiam nos ajudar porque não queríamos dormir no carro naquele lugar perigoso e quando entramos os policiais estavam assistindo O Clone! Tivemos que esperar O Clone terminar para ir com a polícia até o posto de combustível. O policial explicou para o segurança o que havia acontecido com a gente e o segurança nos deixou encher o tanque e nos disse pra jogar o dinheiro no chão que ele pegaria depois que fossemos embora. É mole? Ele não confiava nem na polícia. Pensamos que o problema já estava resolvido mas não estávamos nem próximos... Finalmente chegamos à pousada por volta da meia noite e após bater na porta, tocar campainha e buzinar por quase 10 minutos ninguém abriu a porta. Pensamos um pouco e vimos que a única opção que tínhamos era buscar outra pousada. Tivemos que rodar muito para achar alguma opção que 1) Abrisse a porta pra gente a essa hora 2) Não custasse uma fortuna. Quando já estávamos fazendo os planos pra estacionar o carro em algum lugar que tivesse mato suficiente pra ficarmos camuflado e seguros encontramos uma pousada promissora! Salvos aos 47 minutos do segundo tempo.
No dia seguinte eu enviei um email perguntando a primeira pousada porque nunca nos abriram a porta e me responderam que o lugar é muito perigoso e que eles não abrem a porta pra ninguém depois das 21:00. Parece que nem mesmo se um hóspede fica de fora...
Já recuperados na manhã seguinte decidimos trocar os dólares que meu amigo ainda tinha pra pagar a pousada. Para chegar ao centro havia um trânsito inimaginável e levamos mais de duas horas. E para os que não sabem na Venezuela não há câmbio legal de dólar, só ilegal nas ruas. O grande negócio é que o mercado negro paga muito mais do que o "legal" que na prática não existe. Em teoria pode parecer incrível porque seu dinheiro se valoriza mas pra um turista que não sabe aonde e com quem trocar o dinheiro pode ser complicado e perigoso, como veremos. E bem, óbvio que acabamos enrolados... O negócio funcionava assim: meu amigo negociou um bom câmbio para seus U$80 mas quando o cambista lhe deu os Bolivares Fuertes ele deu 10 Bolívares a menos. Meu amigo contou o dinheiro, viu que faltava e reclamou. O cambista pegou o dinheiro de volta, recontou, adicionou os 10 Bolivares que faltavam e devolveu a grana pro meu amigo. Em todo o momento há muita tensão porque o cambista te diz todo o tempo que a polícia não pode ver se não teremos problemas e então decidimos sair o mais rápido possível. Pouco tempo depois descobrimos que no momento em que o cambista adicionou os 10 Bolivares que faltavam no topo da pilha ele aproveitou e retirou quase todo o dinheiro que estava abaixo da pilha. Resumindo: nos enganou e saímos no prejuízo. Descobri depois que o golpe é conhecido em todo o mundo e passa muito com taxistas. Em nossa defesa a moeda da Venezuela é tão desvalorizada que qualquer quantidade de dinheiro é uma pilha de notas e fica mais difícil saber a quantidade sem contar.
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Isla Margarita |
Na última noite havíamos pensado em ir a um bairro que havíamos escutado ser mais boêmio mas decidimos dormir um pouco antes de sair e acordamos às 03:00 da manhã. Somente despertamos porque estava chovendo e vimos que havíamos esquecido uma janela do carro que alugamos aberta! Resultado: o lado de dentro do carro parecia uma piscina e tínhamos que entregá-lo no mesmo dia. Rs! Durante a manhã fomos à praia El Yaque antes de seguir ao aeroporto. A praia era conhecida pelos praticantes de kite surfing e decidimos almoçar em uma barraca de praia. Pedi um sanduíche de atum e apesar do gosto um pouco diferente a fome falou mais alto e o comi todo. Já dá pra imagina a consequência né?!
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Vista do nosso hotel em Caracas |
Fizemos check-in e caminhamos um pouco pelo centro mas o tempo que tínhamos era curto. Fomos ao centro comercial San Ignacio e por lá jantamos e decidimos aproveitar a última noite e procurar uma boate. Meu amigo Leonardo falava um pouco de espanhol e carregou o sotaque o máximo possível para convencer o segurança que éramos gringos e assim acabamos descolando uma garrafa de champagne por um preço camarada. Nessa boate me dei conta de algo que já havia escutado mas não vi no sul do país: a Venezuela deve ser a capital mundial do silicone. Era incrível! Hehehehehe. O problema começou uma hora depois de entrar quando comecei a sentir o resultado do sanduíche de atum. O tal resultado demorou pra ser sentido mas quando chegou veio com tudo! Avisei meu amigo e saí correndo da boate até o hotel. No caminho fui parado pela polícia que me avisou que tinha me parado porque ninguém anda pela cidade sozinho na rua a essa hora e quando viram que eu era turista me levaram até o hotel. Não sabia se ficava contente ou preocupado com a carona da polícia mas a pressão me impedia até de pensar. No caminho eles me deram umas dicas dizendo que Caracas é muito perigosa e conhecida entre os locais como Caraquistão! Cheguei ao hotel e fui ao banheiro mais ou menos umas 5 vezes durante a noite. No dia seguinte tomamos o voo de volta com destino à São Paulo. Durante o voo a crise estomacal, pra dizer de maneira educada, seguiu. De São Paulo peguei outro vôo de volta à Manaus. No dia seguinte fui ao hospital em Manaus e faltei o trabalho porque seguia indo ao banheiro e não conseguia comer nada. Nunca tive uma intoxicação alimentar tão forte na vida!
Apesar desse não ser o objetivo do blog é impossível falar da Venezuela sem mencionar sua situação política e econômica. É muito claro que as escolhas tomadas pelo governo resultaram em um custo altíssimo à população que sofre todos os dias com a burocracia do governo, inflação descontrolada que na prática faz com que sua moeda não valha para quase nada e escassez de produtos. Por essa razão não há muitos viajantes que escolhem esse país como seu destino. Escutei que Los Roques está muito melhor do que o resto do país porque a população vive do que planta e pesca no arquipélago, mas a verdade é que não pagaria pra ver. O sul do país é lindo e a parte amazônica é incrível e na minha opinião foi o ponto alto da viagem. Gostaria de voltar pra percorrer a trilha do Monte Roraima. Mas somente voltaria ao norte do país se a crise fosse resolvida.
Roraima e Venezuela - Final