quarta-feira, 9 de junho de 2010

Realmente adoramos Canaima. E olha que como havia mencionado na postagem anterior nem tínhamos planos de passar por lá! Após a visita à Santo Angel fizemos o caminho de volta: regressamos de lancha até Canaima e voamos no monomotor até Ciudad Bolivar. Quanto estávamos em Canaima não sabíamos se ir à Los Roques ou Margarita para aproveitar uma praia. Acabamos escolhendo Margarita porque segundo os locais tinha uma atmosfera de festa enquanto Los Roques era mais para casal. Assim que desde Ciudad Bolivar seguimos de avião à Margarita fazendo uma escala em Caracas.

Chegamos à Isla Margarita e decidimos alugar um carro. Como eu já havia mencionado o combustível por lá é subsidiado pelo governo. Tomei um susto quando subi ao carro e o tanque estava menos da metade cheio. E quando fui reclamar descobri que pra agência pouco importa se você devolve o carro com o tanque cheio ou vazio, pra eles dá igual.



Com nossa máquina em Isla Margarita
Isla Margarita

Epopeia para chegar à pousada em Margarita
Se segure que aí vem história! Saímos da locadora por volta das 21:00 e tínhamos que encontrar nossa pousada. O aeroporto fica do lado leste de Margarita mas a pousada ficava do lado oeste. Nos desentendemos com o GPS e aí começaram os problemas. Demoramos tanto para achar a pousada que quando vimos já tínhamos o tanque quase vazio. Procuramos um posto de combustível e nesse momento vi como Margarita é perigosa. Os postos estavam todos fechados e o pessoal de segurança ficava armado de guarda no teto com armas gigantes. Quando nos aproximávamos para explicar a situação eles nos mandavam correr e apontavam as armas. Fomos à uma delegacia perguntar se eles não podiam nos ajudar porque não queríamos dormir no carro naquele lugar perigoso e quando entramos os policiais estavam assistindo O Clone! Tivemos que esperar O Clone terminar para ir com a polícia até o posto de combustível. O policial explicou para o segurança o que havia acontecido com a gente e o segurança nos deixou encher o tanque e nos disse pra jogar o dinheiro no chão que ele pegaria depois que fossemos embora. É mole? Ele não confiava nem na polícia. Pensamos que o problema já estava resolvido mas não estávamos nem próximos... Finalmente chegamos à pousada por volta da meia noite e após bater na porta, tocar campainha e buzinar por quase 10 minutos ninguém abriu a porta. Pensamos um pouco e vimos que a única opção que tínhamos era buscar outra pousada. Tivemos que rodar muito para achar alguma opção que 1) Abrisse a porta pra gente a essa hora 2) Não custasse uma fortuna. Quando já estávamos fazendo os planos pra estacionar o carro em algum lugar que tivesse mato suficiente pra ficarmos camuflado e seguros encontramos uma pousada promissora! Salvos aos 47 minutos do segundo tempo. 

No dia seguinte eu enviei um email perguntando a primeira pousada porque nunca nos abriram a porta e me responderam que o lugar é muito perigoso e que eles não abrem a porta pra ninguém depois das 21:00. Parece que nem mesmo se um hóspede fica de fora...


Já recuperados na manhã seguinte decidimos trocar os dólares que meu amigo ainda tinha pra pagar a pousada. Para chegar ao centro havia um trânsito inimaginável e levamos mais de duas horas. E para os que não sabem na Venezuela não há câmbio legal de dólar, só ilegal nas ruas. O grande negócio é que o mercado negro paga muito mais do que o "legal" que na prática não existe. Em teoria pode parecer incrível porque seu dinheiro se valoriza mas pra um turista que não sabe aonde e com quem trocar o dinheiro pode ser complicado e perigoso, como veremos. E bem, óbvio que acabamos enrolados... O negócio funcionava assim: meu amigo negociou um bom câmbio para seus U$80 mas quando o cambista lhe deu os Bolivares Fuertes ele deu 10 Bolívares a menos. Meu amigo contou o dinheiro, viu que faltava e reclamou. O cambista pegou o dinheiro de volta, recontou, adicionou os 10 Bolivares que faltavam e devolveu a grana pro meu amigo. Em todo o momento há muita tensão porque o cambista te diz todo o tempo que a polícia não pode ver se não teremos problemas e então decidimos sair o mais rápido possível. Pouco tempo depois descobrimos que no momento em que o cambista adicionou os 10 Bolivares que faltavam no topo da pilha ele aproveitou e retirou quase todo o dinheiro que estava abaixo da pilha. Resumindo: nos enganou e saímos no prejuízo. Descobri depois que o golpe é conhecido em todo o mundo e passa muito com taxistas. Em nossa defesa a moeda da Venezuela é tão desvalorizada que qualquer quantidade de dinheiro é uma pilha de notas e fica mais difícil saber a quantidade sem contar.



Isla Margarita
Isla Margarita
A verdade é que depois de tanto problema eu já estava de saco cheio de Margarita e arrependido de não ter ido à Los Roques mas tínhamos que aproveitar da melhor maneira possível os dois dias que tínhamos disponíveis. Assim que fomos a algumas praias mas nada que me impressionou. Pensei que o lugar seria o Caribe mas qualquer praia no Brasil dá de 10. Além disso me senti mais inseguro do que em qualquer cidade que já visitei antes apesar das blitz da polícia e do exército que eram constantes. Quando trabalhei em Manaus escutava muitos locais falando que iam à Margarita mas acho que a única razão é a proximidade e talvez os preços. Talvez se você vá com um pacote fechado pra ficar em um resort seja melhor. O lugar era bem precário mesmo, por exemplo: fomos à um restaurante comer e os garçons limpavam as mesas e jogavam todo o lixo incluindo latas, resto de comida e garrafas no rio que estava ao lado. Acabamos aproveitando nossos dias tomando umas cervejas nas praias. Durante às noites buscávamos algo pra fazer mas por ser baixa temporada não havia quase nada aberto.

Na última noite havíamos pensado em ir a um bairro que havíamos escutado ser mais boêmio mas decidimos dormir um pouco antes de sair e acordamos às 03:00 da manhã. Somente despertamos porque estava chovendo e vimos que havíamos esquecido uma janela do carro que alugamos aberta! Resultado: o lado de dentro do carro parecia uma piscina e tínhamos que entregá-lo no mesmo dia. Rs! Durante a manhã fomos à praia El Yaque antes de seguir ao aeroporto. A praia era conhecida pelos praticantes de kite surfing e decidimos almoçar em uma barraca de praia. Pedi um sanduíche de atum e apesar do gosto um pouco diferente a fome falou mais alto e o comi todo. Já dá pra imagina a consequência né?!



No país do silicone, até mesmo as manequins são turbinadas
Vista do nosso hotel em Caracas
De El Yaque seguimos até o aeroporto, devolvemos o carro e o atendente por sorte não o revisou, e seguimos à Caracas. Chegamos à tarde e o voo de regresso ao Brasil sairia por volta das 08:00. Acabamos ficando em um hotel de um conhecido de um italiano que conhecemos em Canaima. O caminho do aeroporto ao hotel foi meio decepcionante. Eu já havia escutado que Caracas não era uma cidade interessante mas me pareceu um pouco pior do que isso. Pra descrever de maneira simples e sem tentar ser politicamente correto Caracas me pareceu a maior favela que já vi na vida. E olha que já passei por muitos lugares bem precários. A paisagem só melhorou quando chegamos ao bairro Las Mercedes. Segundo o taxista o governo doava tinta para população pintar as faixadas das "casas" pra não parecer tão feio mas o resultado foi o oposto.

Fizemos check-in e caminhamos um pouco pelo centro mas o tempo que tínhamos era curto. Fomos ao centro comercial San Ignacio e por lá jantamos e decidimos aproveitar a última noite e procurar uma boate. Meu amigo Leonardo falava um pouco de espanhol e carregou o sotaque o máximo possível para convencer o segurança que éramos gringos e assim acabamos descolando uma garrafa de champagne por um preço camarada. Nessa boate me dei conta de algo que já havia escutado mas não vi no sul do país: a Venezuela deve ser a capital mundial do silicone. Era incrível! Hehehehehe. O problema começou uma hora depois de entrar quando comecei a sentir o resultado do sanduíche de atum. O tal resultado demorou pra ser sentido mas quando chegou veio com tudo! Avisei meu amigo e saí correndo da boate até o hotel. No caminho fui parado pela polícia que me avisou que tinha me parado porque ninguém anda pela cidade sozinho na rua a essa hora e quando viram que eu era turista me levaram até o hotel. Não sabia se ficava contente ou preocupado com a carona da polícia mas a pressão me impedia até de pensar. No caminho eles me deram umas dicas dizendo que Caracas é muito perigosa e conhecida entre os locais como Caraquistão! Cheguei ao hotel e fui ao banheiro mais ou menos umas 5 vezes durante a noite. No dia seguinte tomamos o voo de volta com destino à São Paulo. Durante o voo a crise estomacal, pra dizer de maneira educada, seguiu. De São Paulo peguei outro vôo de volta à Manaus. No dia seguinte fui ao hospital em Manaus e faltei o trabalho porque seguia indo ao banheiro e não conseguia comer nada. Nunca tive uma intoxicação alimentar tão forte na vida!


Apesar desse não ser o objetivo do blog é impossível falar da Venezuela sem mencionar sua situação política e econômica. É muito claro que as escolhas tomadas pelo governo resultaram em um custo altíssimo à população que sofre todos os dias com a burocracia do governo, inflação descontrolada que na prática faz com que sua moeda não valha para quase nada e escassez de produtos. Por essa razão não há muitos viajantes que escolhem esse país como seu destino. Escutei que Los Roques está muito melhor do que o resto do país porque a população vive do que planta e pesca no arquipélago, mas a verdade é que não pagaria pra ver. O sul do país é lindo e a parte amazônica é incrível e na minha opinião foi o ponto alto da viagem. Gostaria de voltar pra percorrer a trilha do Monte Roraima. Mas somente voltaria ao norte do país se a crise fosse resolvida.


Roraima e Venezuela - Final

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