sábado, 11 de agosto de 2012

Havia combinado de viajar com o mesmo amigo com quem havia ido à Venezuela. O plano agora era seguir ao sudeste asiático. Mas por razões de trabalho ele não conseguia confirmar. Pra não dar bobeira eu decidi comprar a passagem enquanto ele ficava na indefinição, aproveitando o preço mais em conta da compra antecipada. E poucos dias antes da ida ele disse que não poderia ir. Eu estava com a passagem na mão e fiquei pensando no que fazer. Havia feito uma viagem sozinho uma vez, mas que durou uns 10 dias e pelo Brasil. Mas e agora, como seria um mês inteiro sozinho pela Ásia? Pensei um pouco e acabei indo. Pensei que sempre tentar marcar uma viagem junto com algum amigo seria difícil e inevitavelmente um dia teria que viajar sozinho. E essa foi uma das melhores coisas que já fiz na vida! Aconteceram muitas coisas legais e também muitas presepadas, mas que no final das contas acabam servindo de lição e virando história para contar.

O planejamento da viagem envolveu apenas comprar a passagem de ida-e-volta à Bangkok, reservar o primeiro albergue e descobrir como chegar lá desde o aeroporto. Nada mais! Não tinha muita idéia de onde gostaria de ir e acabei decidindo o roteiro de acordo com as dicas do pessoal que conheci pela viagem. Essa aliás, é uma das vantagens de viajar sozinho. Você decide o que fazer de acordo com seu humor.


Saí de Goiânia com destino à Bangkok. Fiz escalas em São Paulo e em Amsterdã e dois dias depois lá estava eu. O metrô conecta o aeroporto ao centro da cidade e sem nenhuma dor de cabeça cheguei ao albergue que havia reservado, chamado We Bangkok. A diferença de fuso e o cansaço do voo me matou e o primeiro dia foi bem tranquilo. O albergue era bem legal e acabei ficando por lá mesmo. Havia uma área comum com algumas mesas que ficavam do lado de fora do albergue. A rua era bem tranquila, sem movimento, e com um 7-Eleven a poucos metros. Acabei comprando umas cervejas e comendo por lá mesmo batendo papo com o pessoal.



O famoso ping-pong show
Ceda o seu assento para os monges!

Não me enfocarei em dicas de turismo normal por Bangkok pois já falei bastante delas nesse post aqui. Durante os dias fiz quase os mesmos passeios turísticos passando pelo Wat Pho e pelo Wat Phrakaew. E durante à noite me juntava com o pessoal do albergue e aproveitamos os bares da cidade. E pelas noites eu vi que Bangkok é realmente a cidade da perdição! Eu havia lido um livro fazia pouco tempo chamado "Don't tell mom I work on the rigs", e estava bem empolgado pra conhecer a cidade descrita lá. Os bares são bem baratos e a população é bem tolerante e liberal. Como resultado está a imensa quantidade de bares, cabarés e tudo o que você imaginar. Em uma das noites depois de passarmos por uns três bares diferentes o pessoal com quem eu andava queria ir a um ping pong show. Pra quem não sabe o que é, basta uma busca no Google! Uma das coisas mais bizarras que já vi na vida! E é exatamente isso que você está imaginando mesmo. Na porta nos disseram que a entrada custava U$10, mas você pagava na saída como um couvert. Depois de assistir ao espetáculo queríamos sair mas o que queriam nos cobrar era completamente diferente do que haviam dito na porta, U$30. E não havia como não pagar já que os seguranças do lugar foram bem persuasivos! Rs! Não havia muito clima pra seguir à noite e voltamos todos ao albergue.


Depois de três dias de Bangkok, me despedi do pessoal do albergue e segui à Khao San Road, de onde sairia minha van com destino à Siem Reap no Camboja. O pessoal da van era bem gente boa, todos jovens mais ou menos com a minha idade e acabamos nos enturmando. Formamos quase que uma liga latino americana na van já que éramos eu, duas irmãs da Guatemala e uma Francesa e uma Estadunidense que falavam espanhol.



Passando a fronteira do Camboja
Cuidado com o trânsito de elefantes

Já havia lido online que apesar de você poder tranquilamente retirar o visto para o Camboja na fronteira terrestre, os motoristas das vans sempre colocam pressão dizendo que os oficiais da fronteira não iriam nos conceder o visto se não o usássemos como intermediário. E obviamente, ele cobrava para isso. Todos sabíamos que era golpe mas o motorista queria dificultar de todas as maneiras. E eu pensei que como o único homem do grupo sobraria pra mim discutir com o cara. Mas não é que uma das mulheres começou a gritar tanto com o cara que ele desistiu! Final da história, nós mesmos fizemos a tramitação do visto, que foi bem tranquila e custou U$35. O engraçado é que no visto está estampado o preço de U$30, mas parece que os oficiais também queriam tirar o deles. Rs!

A moeda do Camboja é o Riel, mas na prática o dólar é universalmente aceito. Acabei nem trocando dinheiro.

O meu plano em Siem Reap, era conhecer as ruínas de Angkor Wat. Pra quem não conhece, esse é um complexo de templos gigantes que fica por lá e foi construído no século XII. Os templos foram inicialmente feitos para homenagear deuses hindus mas depois foram modificados por budistas, o que acabou transformando bastante o lugar. Além disso, Angkor Wat é gigante, muito maior do que Machu Pichu, no Peru, por exemplo. Pra quem quer conhecer todos os templos a idéia é comprar a entrada de dois dias.

Chegamos à Siem Reap e o pessoal da van foi a outro albergue. Eu acabei ficando no Hi Siem Reap (U$6 diária) já que havia feito a reserva em Bangkok. Aproveitei para passear um pouco pela cidade e vi que o lugar era bem turístico mesmo. Todos os locais trabalham com turismo e os turistas ficavam por lá para conhecer Angkor Wat.


Por Angkor Wat
Meu templo favorito em Angkor Wat - Ta Prohm
Antes dos ônibus chegarem, com poucos turistas
Por Angkor Wat




No dia seguinte fui cedo à Angkor Wat. Decidi ir em bicicleta, que aluguei no albergue, para evitar pagar os U$10 que cobravam os motoristas de tuk-tuk. Em 20 minutos (6km) cheguei à entrada do templo. Acorrentei a bicicleta à uma árvore, comprei o ingresso de um dia e entrei antes da chegada dos ônibus. Caminhei todo o dia, desde às 09:30 até às 16:00 e vi um templo mais incrível que o outro. O meu templo favorito foi Ta Prohm, que inclusive já serviu de locação para um filme de Tomb Raider. O que mais gostei de lá era que as árvores literalmente cresceram no templo abandonado. O que mais gostei de Angkor eram a quantidade de detalhes nas ruínas e também a maneira com que a natureza tomou o templo. No parque há muitos vendedores ambulantes que vendem comida, caso bata àquela fome.



Mais Angkor Wat
Umas cervejas depois do passeio
Macaco roubando a água do turista
Relevos nas pedras

Após tanto caminhar, voltei à cidade e fui jantar com o pessoal que havia conhecido na van quando passamos a fronteira. Acabamos sentando em um restaurante e pedimos um menu de degustação que incluía carne de cobra e sapo! Foi a primeira vez que provei e pra mim tudo tinha gosto à peixe! Após encher a pança fomos à um bar chamado Angkor What ?. Esse é o nome do lugar mesmo! Pedimos os piores drinks possíveis e no dia seguinte, com aquela ressaca absurda, subi ao ônibus em direção à capital do Camboja, Phnom Penh.

Depois de estar em um lugar tão turístico como Siem Reap, foi legal ir à Phnom Penh que era bem mais vazia. Me hospedei no albergue Nomads, que foi um dos albergues mais baratos (U$4,5 diária) e legais em que já fiquei. O dono era um francês casado com uma Cambojana, e o lugar era bem simples. Não haviam camas, os colchões ficavam no chão mesmo. E o dono era super cordial e te explicava tudo o que fazer e o que não fazer, aonde sacar dinheiro e tudo mais.

O meu principal objetivo em Phnom Penh era pedir o visto para ir ao Vietnã, já que brasileiros tem que fazer o trâmite com antecipação para entrar ao Vietnã por terra. O tempo normal de emissão era 3 dias úteis, mas havia uma opção de visto expresso que ficava pronto em 24 horas. Os preços variavam se era para múltiplas entradas ou entrada única. Acabei pedindo entrada única, e o expresso me custou mais ou menos U$45. O emitido em tempo normal era muito mais barato mas não tinha todo esse tempo. Enquanto esperava o visto, aproveitei para conhecer a cidade!


Na primeira noite em Phnom Penh saí com o pessoal do albergue e fomos a um mercado próximo a jantar. O Nomads era muito bem localizado e próximo a muita coisa. A comida foi bem legal mas vimos que o lugar funcionava com um lugar para quarentões europeus endinheirados paquerar garotas de programa locais com menos da metade da idade deles.



Palácio Real em Phnom Penh
Comida típica do Camboja servida em folha de bananeira. Pode não parecer mas era boa!

No dia seguinte aproveitei para conhecer os pontos turísticos e durante a manhã fui ao Palácio Real, que é bem bonito e me lembrou bastante os palácios de Bangkok. Caminhei por todo o palácio e na hora do almoço me encontrei, por coincidência, com as guatemaltecas que haviam passado a fronteira comigo. Almoçamos juntos e seguimos à um lugar chamado Choeung Ek Killing Fields (campo de extermínio). Pra entender o que é o lugar, convém conhecer um pouco da história contemporânea do Camboja. Após independência da França, o país entrou em uma guerra civil que durou de 1968 até 1975. Após seu fim, se instaurou uma ditadura comunista pelo país, liderada pelo sanguinário Pol Pot, líder do Khmer Vermelho. E ele foi, sem dúvida, um dos piores ditadores que já passaram por esse planeta. No final do seu regime 25% da população do Camboja havia sido morta por fome ou execução. No campo você aprende bastante à respeito das pessoas que foram executadas e enterradas por lá e somente nesse campo foram encontrados quase 10000 corpos! O clima do lugar é bem pesado. Apesar de não gostar muito desse tipo de turismo, gostei aprender um pouco mais do que passou por lá.


Crânios em Choeung Ek Killing Fields
Na entrada de Choeung Ek

Após conhecer Phnom Penh decidi seguir a viagem rumo ao sul do Camboja, mas isso fica para o próximo capítulo.

Sudeste Asiático - Parte 2 - Sihanoukville e Ho Chi Min

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