sexta-feira, 5 de maio de 2017

Sempre tive vontade de conhecer a Inglaterra. Já havia escutado tanta gente dizer que Londres era uma das cidade mais legais do mundo, inclusive minha esposa, que eu tive que conferir. Eu e minha esposa aproveitamos um folga e decidimos ir desde Copenhage. A ideia era também ir à Dublin, aproveitando a proximidade entre as duas cidades.

Chegamos à Dublin debaixo da chuva. É até meio clichê, pois a cidade, assim como Londres, é conhecida por chover com muita frequência. Raramente tenho dor de cabeça na imigração, mas em Dublin, apesar de não ter sido complicado, tive de responder mais perguntas que o normal. Imagino que seja pela incrível quantidade de brasileiros que há na cidade. O transporte público é bem eficiente e, apesar de não haver trem que vai do aeroporto ao centro, há um ônibus chamado Airlink que faz esse itinerário. A passagem custa €6 ida ou €10 ida-e-volta.


Rocio em frente ao The Temple Bar

Uma Guinness no The Temple Bar

A nossa ideia era ficar em algum albergue no bairro The Temple Bar, onde estão muitas atrações da cidade. Não se confunda, há um bar e um bairro chamados The Temple Bar. As maiores atrações da cidade, diga-se de passagem, são os pubs, que são um espetáculo à parte. A cerveja tradicional da Irlanda é a Guinness, e quanto a isso não há competição já que todos os bares têm a Guinness como carro-chefe. O diferencial de cada pub é a música ao vivo. Praticamente todos têm música ao vivo, que é sempre muita animada. Há bares que são praticamente só para turistas e também os para locais. No bairro The Temple Bar é quase impossível entrar em um bar com mais locais do que turistas. Além de bebida, a maioria dos pubs também oferece comida.


Chegamos em um fim de semana combinado com feriado e as ruas de The Temple Bar eram uma incrível festa. Muitas despedidas de solteiro, gente jogada pelas esquinas após haver tomado um pouco a mais e por aí vai. Ficamos no albergue Oliver St. John Gogarty. A localização era muito boa, mas me surpreendi com os preços. A hospedagem nos pareceu mais cara em Dublin do que em Londres. Algo importante para saber é que apesar da Irlanda usar a mesma moeda que a União Européia, eles utilizam a tomada da Inglaterra!


Passamos o primeiro dia percorrendo os pubs da cidade e tomando, ao menos, uma Guinness em cada um. Os que mais gostei foram The Temple Bar, The Bank e The Church. Duas dicas interessantes, os preços nos pubs variam de acordo com a hora e há que chegar cedo se quiser uma mesa. Os pubs estão sempre bem cheios após as 18h.



Estátua de Molly Malone. Diz a lenda que quem toca seus seios volta à Dublin!

No nosso segundo dia pela cidade, fizemos o Free Walking Tour, que é aquele passeio com guia turístico que você deixa uma gorjeta para o guia depois. O passeio nos levou a vários lugares conhecidos no lado Sul da cidade, como o imperdível The Temple Bar, Dublin Castle e seu jardim bem verde, Christchurch Cathedral e St. Patrick’s Cathedral. Terminamos o passeio em Trinity College, que é "aparentemente" onde está a harpa que é o símbolo do país. Digo aparentemente porque uma investigação, usando Carbono 14, mostrou que a data de fabricação da harpa exposta não condiz com a história do país. Outra história interessante é que a Guinness e a Irlanda têm a harpa como símbolo. Mas, a harpa da cerveja foi registrada antes, então, para evitar problemas, a Irlanda usa a mesma harpa girada 180°. Ficamos com vontade de entrar na biblioteca de Trinity College, mas o preço pareceu bem salgado. Varia de acordo com a hora, mas custava um pouco mais de €10. Há desconto para estudante.



Entrada da Guinness Storehouse
Uma das exposições em Guinness Storehouse

Passeamos também por St. Stephen Green Park. Aproveitamos para descansar pelos gramados e conferir as estátuas espalhadas pelo parque. Em seguida  fomos à Guinness Storehouse. Havíamos comprado a entrada on-line antecipada, mais barata do que na hora. Os preços começam em €14, se você animar a visitá-los às 9h. Durante a tarde sai um pouco mais caro. A visita foi normal, de nenhuma maneira imperdível. Acabei indo porque é minha cerveja preferida. No final do passeio, você ganha uma Guinness no bar que fica na cobertura do lugar e passa por uma loja que vende tudo que você imaginar da Guinness: porta-copos, roupa, quadros, chaveiro e tudo mais.



Castelo de Dublin
Estátua de James Joyce em St. Stephen Green Park
Em St. Stephen Green Park

Desde Dublin, há muitos passeios próximos para quem quiser explorar as cercanias. Tinha vontade de conhecer Cliffs of Morhen, que é um desfiladeiro que me pareceu bem interessante, mas acabamos indo à Belfast, na Irlanda do Norte. Decidimos não comprar nenhum pacote, mas fazer a viagem nós mesmos. Financeiramente, praticamente, não há diferença entre as duas opções, mas queríamos estar livres para fazer o que quiséssemos em Belfast. A vantagem do pacote é que o ônibus de turismo pára em alguns lugares interessantes pelo caminho. Compramos a passagem de ida-e-volta na rodoviária de Dublin e em pouco mais de duas horas estávamos em Belfast. Não existe nenhum controle entre esses dois países e o único sinal que te lembra que está passando pela fronteira são placas que avisam que não há controle na fronteira.

Chegamos a tempo de fazer o Free Walking Tour e assim começamos o passeio por Belfast. O passeio foi bem interessante, mas tinha uma pegada completamente distinta do de Dublin. O de Dublin nos levou a lugares turísticos enquanto conversávamos à respeito das personalidades que nasceram por lá e da divertida cultura de pubs. Já o passeio de Belfast focou nos conflitos que aconteceram na Irlanda do Norte no final do século XX, chamados The Troubles. Obviamente, também passamos por lugares bem legais, como: City Hall, Albert Clock (que é um relógio com uma inclinação de te faz lembrar a torre de Pisa) e a Catedral de Belfast. Mas, a maior parte das conversas com o guia se resumiam aos conflitos.


Pra quem não conhece bem, a Irlanda do Norte, apesar de ficar na mesma ilha que a Irlanda, é um território que pertence à Inglaterra e de maioria protestante, enquanto a Irlanda é um país independente e de maioria católica. The Troubles foram disputas armadas entre uma minoria católica que queria fazer parte da Irlanda e os protestantes que queriam seguir pertencendo à Inglaterra. O problema subiu a níveis inimagináveis e antes da assinatura de um acordo de paz, em 1998, nessa revolta, que durou mais ou menos 30 anos, Belfast era alvo de bombas todas as semanas. Durante alguns períodos, diariamente. O guia, que era um senhor de um pouco mais de 60 anos, nos dizia o tempo todo que, durante essa época, ele nunca imaginou que algumas décadas depois estaria conduzindo grupos de turistas por essa mesma Belfast.



Arte urbana em Belfast contando a história da cidade
Muro da paz, que separava os bairros católicos e protestantes. Encontrei um "Fora Temer" por lá

Hoje, Belfast é muito segura e apesar de termos passado apenas um dia por lá, eu animaria ficar um tempo mais. Em comparação com Dublin, os preços são muito mais em conta. Alimentação e bebidas me pareceram ao menos 30% mais baratos. Como eles pertencem à Inglaterra, sua moeda é a Libra e não o Euro. Apesar da moeda ser a mesma da Inglaterra, as notas têm desenhos diferentes, o que fez alguns comerciantes na Inglaterra rejeitarem o bilhete.


Monumento aos mortos do Titanic, próximo ao City Hall
Albert Clock

A história de Belfast é bem ligada também à indústria naval. O Titanic, inclusive, foi fabricado por lá. Existem alguns monumentos pela cidade lembrando essa parte. A indústria naval ainda existe, mas hoje é bem menor e ligada à indústria petroleira.



Mostras de que o conflito não ficou tão para trás

É possível ainda notar alguns sinais do conflito pela cidade. Um que me pareceu bem visível são placas proibindo pessoas com camisetas de futebol entrarem em certos estabelecimentos. A razão é que os times representam uma ou outra religião e consequentemente um ou outro lado do conflito. Mais um sinal do conflito, e que também é legal para quem gosta de história e arte de rua, é ver o muro da paz. Na verdade, são quilômetros de muros espalhados pela cidade. No passado, separavam os bairros católicos dos protestantes. Hoje, é apenas um resquício de um passado, complicado, que agora está coberto com grafitti.

Algo bem interessante é imaginar o que acontecerá com essa região, agora que o Reino Unido está saindo da União Europeia. A Irlanda do Norte, assim como a Escócia, queria pertencer ao grupo. A diferença é que, ao contrário da Escócia, a Irlanda do Norte tem uma fronteira com a União Europeia. Muitos estão preocupados que um controle de fronteira entre os dois países ressuscite memórias desse passado tão sombrio.

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