quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Desde criança eu já tinha curiosidade de conhecer o arquipélago de Abrolhos. Lembro-me que nessa época, li um livro infantil chamado "As Aventuras do Marujo Verde", que contava a história de uma baleia e um papagaio viajando pelo mundo e Abrolhos foi um desses lugares. Muito tempo, já adulto, li na revista Mergulho uma reportagem a respeito de Abrolhos, sobre as baleias que aproveitam o arquipélago como berçário para seus bebês e os mergulhos. Inclusive, a revista elegeu o Chapeirão Faca Cega como um dos dez melhores pontos de mergulhos do Brasil. Uma coisa levou a outra e - tempos depois - lá estava eu com minha irmã e minha esposa, prontos para conhecer.


Farol de Santa Bárbara em Abrolhos

O arquipélago de Abrolhos foi formado por erupções vulcânicas há alguns milhões de anos atrás e conta com cinco ilhas, porém apenas uma é habitada, a Ilha de Santa Bárbara, que é a maior. As outras ilhas se chamam Siriba, Redonda, Guarita e Sueste. Das quatro últimas, a única que pode ser visitada é a de Siriba e sempre acompanhada com o pessoal do ICMBio, que te leva a ver a flora e a fauna, em uma visita que dura menos de uma hora. Como havia dito, Abrolhos é habitada, mas não por população local. A Marinha Brasileira e o ICMBio têm presença na ilha. Os marinheiros passam períodos de até seis meses e o pessoal do ICMBio passa períodos mais curtos. Por conta disso, não há hospedagem para turistas no arquipélago com exceção dos barcos que fazem o passeio até lá. Também não há sinal de celular.


Moradias da Marinha e do ICMBIO na Ilha de Santa Bárbara

A única maneira de ir a Abrolhos é de barco. Existem embarcações que fazem o passeio indo e voltando no mesmo dia e oferecendo: refeições, desembarque em Santa Bárbara e Siriba e flutuação. Há também os liveaboards, voltados para o público que faz mergulho, durando entre três e quatro dias. Foi minha segunda vez em um liveaboard e gostei, bastante, achando melhor do que o primeiro, anos atrás na Colômbia. Nós contratamos o passeio desde São Paulo com a escola de mergulho Diving College, que por sua vez vende o pacote da empresa Apecatu, que é quem organiza os barcos e prepara toda a viagem. Eu recomendo bastante o trabalho das duas empresas, achei bem profissional. Além dos mergulhos incríveis, a comida do barco foi fenomenal. Cuidado para não engordar! Viajamos no catamarã Zeus, que pelo que escutei é o melhor liveaboard da região. Eu e a Rocio ficamos em um quarto de casal, que era confortável. A única coisa que pode ser um inconveniente para alguns é a ducha, que é simples. Eu, pessoalmente, não me incomodei muito e tomei meus banhos na mangueira no deck mesmo, porém pode ser um pouco mais incômodo para quem tem cabelo comprido.


Foto da proa do catamarã Zeus retirado do site da Apecatu

Se parece fácil contratar o passeio e subir no barco em direção a Abrolhos, chegar até Caravelas (BA), a cidade de onde saem os barco, desde uma das capitais do Brasil não é tão fácil. O aeroporto mais próximo fica em Teixeira de Freitas, que está a 90 km de Caravelas. Apenas uma empresa faz os voos e quando fomos, na época do carnaval, as passagens custavam mais de R$2500 ida e volta desde São Paulo, com duas semanas de antecipação. O segundo aeroporto mais próximo é Porto Seguro (BA), que está a 260 km. Como era carnaval, Porto Seguro estava quase tão caro quanto Teixeira de Freitas. Acabamos voando à Vitória (ES), que está a 400 km de Caravelas, alugamos um carro e seguimos viagem. Caso decidisse voltar a Abrolhos, eu escolheria outra época e voaria à Teixeira de Freitas. Além da longa distância desde Vitória, a BR 101 tem somente uma pista em cada direção e trânsito pesado de caminhões, o que fez com que demorássemos 6h30. Durante o percurso, vimos obras de duplicação, mas nem próximo de estar terminando.

Há várias opções de hotel, tanto em Caravelas, quanto em Barra de Caravelas, que estão separadas por menos de 10 km. Pra quem procura hospedagem simples, mas em boas condições, eu recomendo o Abrolhos Dive Inn, que é de um dos instrutores de mergulho da região. O lugar é novo e conta com redes, esteiras e tudo mais pra você descansar, além de um clima de albergue descontraído, afinal de contas você está na Bahia! Aproveitamos para ir durante uma manhã à praia em Barra de Caravelas, que tem um clima gostoso de praia simples da Bahia, pra comer camarão e tomar água de coco.


Atobás na ilha de Siriba
Rocio, Marina e eu na Ilha de Santa Bárbara

Mas, voltando a Abrolhos... Como muitos sabem, a origem da palavra é uma contração de "abra os olhos", termo usado pelos marinheiros portugueses, justamente, por conta dos chapeirões da região. Os chapeirões são formações coralíneas que chegam a 20 m de altura e 50 m de diâmetro, formando o maior banco de corais do Atlântico Sul. E esses chapeirões foram responsáveis por dezenas de naufrágios na região. Por conta disso, o governo brasileiro instalou em 1861 um farol na Ilha de Santa Bárbara, ainda no reinado de Dom Pedro II.


Placa no Farol de Santa Bárbara
Grupo caminhando em direção ao Farol de Santa Bárbara

Nos quatro dias que ficamos no arquipélago, fizemos 13 mergulhos e os meus favoritos foram o Chapeirão Faca Cega e o Naufrágio Santa Catharina. O Faca Cega é um chapeirão gigantesco e explorá-lo é muito legal. Já o Santa Catharina foi um vapor alemão que foi afundado pelos ingleses em 1914, porém mais de cem anos depois continua em boas condições para ser explorado. Os mergulhos em geral não passam dos 20 metros de profundidade e com visibilidade que chegava aos 15 metros nessa época do ano.


Explorando o naufrágio Santa Catharina
Tesouros encontrados no naufrágio
Cardumes se divertindo com as lanternas de um mergulho noturno

Como eu havia mencionado, além de mergulhos, Abrolhos oferece a oportunidade de avistar as baleias jubarte que visitam a região todos os anos, entre julho e novembro, que é a alta temporada. Na época que estive, ainda no verão, a água está quente, cerca de 27°C, o que é ótimo para mergulhar, porém as baleias preferem lugares mais frios. Caso eu volte, gostaria de ir justamente nessa época, para pode vê-las. E dessa vez, levarei mais dramin!


Uma lagosta escondida
Pôr do sol em Abrolhos

2 comentários:

  1. Muito legal, Pedro! =)
    Estou louca para voltar e ver as baleias.

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  2. Amei Pedro! Muito bom conhecer vcs e poder compartilhar essa viagem fantástica...vamos voltar!!

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